vendredi 30 janvier 2009

Haïku

le pont
enjambe le lac glacé -
le banc semble bien seul

Haïlaï

como um autómata -
varro o chão da cozinha
às escuras!

vende-se tudo:
da banha da cobra
ao corpo em crise -
dizem os especialistas

vento do mar
not 4 sale yet -
Let's sail away!

mercredi 28 janvier 2009

Haïkaï

no beiral da janela -
um pardal mendigo
procura migalhas

à beira da A5 -
um abrigo de pardais
nº 12

até as palmeiras
baixam os braços
após o noticiário

quero
sumo de laranja
bebo
sumo de maçã

tarde invernosa -
chá e scones
the tv set is on

invernia -
onde páram as borboletas?

no cume da serra -
amanhece
dor nos olhos!

déjà vu: -
no asfalto
a dança do vento
e dos sacos de plástico!

cai uma pétala
da flor da amendoeira -
afocinho no trânsito!

4 paredes de cartão
construção em tosco -
reserve em planta!

do alto da falésia -
as avencas
veneram o oceano

Inverno.
De rosto pálido - circulo
pelo passeio contrário

atracção -
no fundo das escarpas
o mar e um abismo

(este último, a partir de uma foto do blogue Anjo Marginal)

mardi 27 janvier 2009

Da inoculação do vírus....

os flamingos rosa
exibem-se no pântano
outra passerelle

(Helena Monteiro, blogue: linhas de cabotagem...)


P.S: ruborizo Helena
apesar das tuas explicações
ainda n sei linkar...

Da inoculação do vírus....

O inverno cai
imaculado manto
oculta a terra

lêdo vai o rio
a cantar enganado
perder-se na foz

(Paulo Neto, blogue: brevitas)

Da inoculação do vírus....

Bem no fundo da tela -
uma pequena mancha
pede ajuda.

Aldeias abandonadas -
morreram os velhos
pairam as histórias.

O caminho serpenteia -
banhado em nevoeiro,
banhado em dúvidas.

Passeio na cidade -
submerso na multidão.
Fiquei só.

Gotas de água
escorrem da testa -
despertam-me a sede.

Sombras pairam.
Aguaceiros
ou ameaças?

Um cavalo só -
com o olhar cavalga
a corda que o enlaça.

Poças de água -
pombas
admiram-se ao espelho.


(Rogério Pinto)

PS: Não tem blogue. Empresto o meu..

lundi 26 janvier 2009

nota bene

Na Introdução da sua Antologia, O Japão no Feminino -II- HAIKU séculos XVII a XX, Luísa Freire escreve o seguinte:

«Neste processo ele (Bashô) propôs dois princípios estéticos como ideais a atingir: sabi (solidão), a beleza que se eleva da identificação do poeta com a natureza vegetal ou animal, ou seja, a absorção pelo poeta do ambiente envolvente e a sua imersão no universo; e karumi (leveza), um efeito poético com base no humor em que a realidade é olhada de um ponto de vista contemplativo que a transcende. Como forma poética o haiku foi concebido, portanto, para sugerir qualquer dado real nas 17 sílabas japonesas (em tradução expressas em 3 linhas ou versos assimétricos de 5,7,5 sílabas), usando como ponto de partida qualquer palavra que evoque uma estação (o kigô). Essa realidade pode ir de uma cena pitoresca com impacto emotivo até uma situação grotesca ou insólita que faça sorrir.
O haiku tradicional não visa criar beleza. Tenta evitar a expressão directa da emoção, onde se situa o tanka ou waka, evitando também a sátira, a crítica burlesca da condição humana, que é típica do senryu. Geralmente é um poema onde uma ou mais imagens representam apenas o embrião do que o poeta sente. (...)
Resumindo as ideias e as práticas subjacentes à criação do haiku, temos a simplicidade, o factor surpresa, o humor e, muitas vezes, o paradoxo; tal como evita a subjectividade, a participação emotiva do sujeito, também não pretende ser intelectual; faz-se do contacto directo com a vida e com a natureza e visa, não a beleza, mas a poesia secreta das pequenas coisas e até do lugar-comum; (...)
De tudo isto se conclui que o haiku, mais do que poesia, é uma atitude mental; mais do que criação, é um processo de descoberta aprendido em cada dia, apreendido em cada coisa, repetido em cada circunstância; é a fusão do directo, do prático e do espiritual, quase a expressão de um satori, fruto de um momento privilegiado e daí ser considerado uma experiência poética e religiosa. Ao contrário da poesia ocidental, o haiku não pretende tocar o grande, o eterno ou o infinito distante, mas só o pequeno, o imediato, o ínfimo infinito que os olhos contemplam, ali mesmo, ao alcance da mão.»

dimanche 25 janvier 2009

águas no rio -
confluência pontoada
de azuis e verdes

no metro -
rapaz com a letra D
agarrada às calças de ganga

nas escadas de pedra -
faceio um gato preto
em fuga.

samedi 24 janvier 2009


Haïku

na neblina da manhã -
2 vultos negros
2 melros ou 2 corvos?

vendredi 23 janvier 2009

Tanka

Roupa no estendal -
ensopada.
Porque chove
num país onde
até crescem palmeiras?

Tanka

Sur le dos
de la femme assise -
un papillon pailleté
attire mon regard.
Je bats des ailes!

Haïkaï

de cansaço
duas folhas mortas -
no banco do jardim


no que resta da praia -
inerte,
um papagaio sintético


passam os aviões -
não há riscos
no céu, só fantasmagoria

Haïkaï

de la fenêtre -
un jardin d'hiver
un peu mort


mes pas
le long du mur -
où me mène ce chemin?


parmi les autres
un camélia blanc
tranche sur la couleur


la petite souris
sort du livre
s'asseoit et lit

Haïkaï - "La danse des pigeons et du merle"

1.
les pigeons picorent
dans le jardin -
insouciants

2.
un merle
entre en scène -
les pigeons s'éloignent

3.
le merle
sort de scène -
les pigeons reviennent

4.
merle et pigeons
sortent de scène -
le jardin nu.

jeudi 22 janvier 2009

Haïkaï

Sol aberto.
Céu liso.
De regresso - as gaivotas!


No asfalto - travagem!
dois gaivotos
abocanham alimento.



Por um triz, dois papalvos
não são esborraçados
neste haiku.


À luz da lanterna -
só enxergo o estendal
e um caracol enlapado.

mercredi 21 janvier 2009

Primeiro Haïku

sol posto -
nuvens ensombradas
sobre o mar

(Matias, 7 anos)

Nostalgia


Haïkaï

À mesa da cozinha,
penso no miolo da vida.
Quebro nozes.


A Rapariga da Pele de Porcelana
voltou.
Faz moafas nos espelhos?


Cai uma saraivada
no quintal.
Eu, desfeita em água!


Na Quinta da Cotovia,
trina
um melro.


No que resta da praia,
um homem passeia o cão.
Cessou a tormenta.


Palmeiras e céu azul.
Fugidas
só as gaivotas.


No bolso -
pedras e alfazema.
Gifts from the Little Gods.


No chão do recreio -
pintado a azul
o jogo da macaca.

mardi 20 janvier 2009

Haïkaï

No topo do Monte da Lua -
só o nevoeiro
por companhia.


Urzes, silvas e tojos gatunhos
invejam os caminhantes.
Pés na lama!


No Bosque da Branca de Neve -
cedros e sequóias centenários.
Desaparecidos os anões?


No cimo da Penha -
uma águia atenta
apenas ao nevoeiro?


Nem a poltrona florida
sonhava acabar os seus dias
na paragem de Bus!


Na senda da Natureza Morta -
Quy uma folha podrida.
Quy um pau musgoso.



No meio dos detritos -
um personagem hirsuto,
chapéu de abas - o cogumelo!


Rouxinol rouco.
Que cante de novo! -
Pastilhas Drill ou Euphon.



Na orla costeira -
ondas em alerta vermelha.
O vento irado!?


No ar -
não há acordes de jazz,
nem névoa. Só água.



(este último foi retirado de um poema do Fred Matos do blogue nas horas e horas e meias, soou-me a haiku... é do Fred.)

lundi 19 janvier 2009

O maior Buda fora de Templo, Kamakura, Japan '08

Haïkaï

Lírios -
crescem pujantes
no Beco dos Lírios.


Noite sem Lua -
tapada pelas nuvens
ou afogada no canal?


Nas águas do canal
brilham estilhaços.
A luz dos candeeiros!


No canal -
ondas de um mar rente.
O cardume de onde vem?

vendredi 16 janvier 2009

Nara, Japan '08

O Japão No Feminino ...

Esta lua e eu
fomos deixadas sozinhas -
que frio sobre a ponte!

Impensáveis flores
quando floriram - agora
eis estas abóboras!

Azáleas bravias,
que sabem florir em chamas
sobre o Monte Aso.

Será que o Outono
vem sozinho à minha vida?
Chuva em fim de tarde.

Narceja a voar -
deixou atrás o murmúrio
de um pequeno rio.

TAGAMI KIKUSHA
(1753-1826)

mercredi 14 janvier 2009

Primeiro Haïku

O sol
cai no chão.
Crescem as flores.

Samuel (7 anos)

Haïkaï

Por detrás do poste -
só a Lua
consegue esgueirar-se

Noite de nevoeiro -
Lua desmaiada
imagem desfocada

Noite de nevoeiro -
a Lua balofa jorra
uma luz pardacenta

Entre as nuvens
e os prédios -
uma bola de fogo

Começa a fila
na auto-estrada.
Retoques na maquilhagem.

Andorinhas chegai!
Os ossos dos velhos
já quebram com o frio.

(Este último haïku foi escrito inspirado numa colagem
cf. meu novo projecto-blogue intitulado:
Para Quem é a Feliz Idade?
feito de colagens e textos...)

lundi 12 janvier 2009

Tanka

Na tela escura -
uma lua gorda
drapeada de veludo
presa com fita cola.
Diamantes a seus pés.

Haïkaï

A boca do Inverno -
cospe flocos
e bafeja gelo.


Singular projecção -
a sombra esguia da árvore
uma presença no asfalto!


No passeio, tombado -
um pinheiro de Natal
e suas luzes agonizantes.


Exército de pinheiros,
siluetas escadeiradas -
o capote coberto de neve.


Dos beirais gelados
das nossas janelas
caem lágrimas de cristal.


Pedaço de madeira -
caído na neve.
Um peixe fora do oceano?!


Manto de neve
na serra -
dia branco de silêncio.


Taças de chá, na mesa -
uma quente, outra fria.
Bebo das duas!


Today -
my all body & soul stagnant.
Considering hibernation!

vendredi 9 janvier 2009

O Japão No Feminino ...

Ao romper do dia,
à conversa com as flores,
uma mulher só.

Paz e silêncio -
vinda da chuva, a borboleta
entra no meu quarto.

Como um peixe no mar,
este meu corpo está fresco
à luz da lua.

Bonecas sempre iguais -
eu não tive outro remédio
senão envelhecer.

ENOMOTO SEIFU
(1732-1815)

jeudi 8 janvier 2009

Japan, '08

Haïkaï

no muro de pedra
projecta-se a sombra da luz -
um candeeiro

lambido pela água -
um corpo moldado de pedra
jaz na areia

mercredi 7 janvier 2009

Haïku

Na linha de horizonte -
uma labareda de chamas.
Sol poente.

lundi 5 janvier 2009

Templo, Japan '08

Tanka

Na praça da Vila -
sob chuva densa,
um carrossel faz girar
a cabeça das crianças.
Primeiro dia do ano.

Haïkaï

Na ponte suspensa,
passa um rebanho de ovelhas.
Carro parado.



Céu plúmbeo.
Bátegas de chuva,
prados alagados de verde.



Nos postes de alta tensão -
das cegonhas
só se vislumbram os ninhos.



Na planície alentejana -
ao lado do laranjal
crescem pinheiros mansos.




Chuva no pára-brisas
e no retrovisor
o farolim de uma mota




Da auto-estrada,
avisto caminhos serpenteantes
que desejo percorrer.




No Vale dos Pinheiros,
erguem-se humildes
azinheiras e sobreiros.




Uma palmeira
na planície alentejana -
anacronismo?




Chove -
enche o leito
da ribeira da Perna Seca.




Caminhantes -
azinheiras e sobreiros
trepam os barrancos.




Num presépio a fingir -
reais,
só as ovelhas!