lundi 26 janvier 2009

nota bene

Na Introdução da sua Antologia, O Japão no Feminino -II- HAIKU séculos XVII a XX, Luísa Freire escreve o seguinte:

«Neste processo ele (Bashô) propôs dois princípios estéticos como ideais a atingir: sabi (solidão), a beleza que se eleva da identificação do poeta com a natureza vegetal ou animal, ou seja, a absorção pelo poeta do ambiente envolvente e a sua imersão no universo; e karumi (leveza), um efeito poético com base no humor em que a realidade é olhada de um ponto de vista contemplativo que a transcende. Como forma poética o haiku foi concebido, portanto, para sugerir qualquer dado real nas 17 sílabas japonesas (em tradução expressas em 3 linhas ou versos assimétricos de 5,7,5 sílabas), usando como ponto de partida qualquer palavra que evoque uma estação (o kigô). Essa realidade pode ir de uma cena pitoresca com impacto emotivo até uma situação grotesca ou insólita que faça sorrir.
O haiku tradicional não visa criar beleza. Tenta evitar a expressão directa da emoção, onde se situa o tanka ou waka, evitando também a sátira, a crítica burlesca da condição humana, que é típica do senryu. Geralmente é um poema onde uma ou mais imagens representam apenas o embrião do que o poeta sente. (...)
Resumindo as ideias e as práticas subjacentes à criação do haiku, temos a simplicidade, o factor surpresa, o humor e, muitas vezes, o paradoxo; tal como evita a subjectividade, a participação emotiva do sujeito, também não pretende ser intelectual; faz-se do contacto directo com a vida e com a natureza e visa, não a beleza, mas a poesia secreta das pequenas coisas e até do lugar-comum; (...)
De tudo isto se conclui que o haiku, mais do que poesia, é uma atitude mental; mais do que criação, é um processo de descoberta aprendido em cada dia, apreendido em cada coisa, repetido em cada circunstância; é a fusão do directo, do prático e do espiritual, quase a expressão de um satori, fruto de um momento privilegiado e daí ser considerado uma experiência poética e religiosa. Ao contrário da poesia ocidental, o haiku não pretende tocar o grande, o eterno ou o infinito distante, mas só o pequeno, o imediato, o ínfimo infinito que os olhos contemplam, ali mesmo, ao alcance da mão.»

5 commentaires:

pn a dit…

Senhora Mestra de Haikus, depois de ler fiquei com vontade de escrever um desses despojados textos, consegui?

O inverno cai
imaculado manto
oculta a terra

Passei?

ma grande folle de soeur a dit…

Paulo, se há roupagem que eu não visto é a de Mestra! Já o fui noutra vida e isso só prejudicou o meu karma... ;)) Fico muito contente por o vírus inoculado paulatinamente estar a alastrar..;)
Para usar linguagem de professor :) claro que passou e com distinção. Continue. Se quiseres posso indicar-te algumas antologias de haikai, do mais tradicional ao haiku do séc. XXI... se te aprouver diz. Abraço

pn a dit…

outro:

lêdo vai o rio
a cantar enganado
perder-se na foz

(ganhando-lhe o jeito, sai um rosário deles!)

venha (agradeço a gentileza) o título/editora da antologia.

(curioso, noutra vida fui escriba, no egipto!)

ma grande folle de soeur a dit…

Sim, alerto para o perigo de se ficar "agarrado" e "formatado" de tal ordem, que não se consegue quase escrever mais nada...
ora as antologias q te posso recomendar:
- Anthologie du poème court japonais/HAIKU (Gallimard)
- Les grands maîtres du Haïku, Éditions Dervy
- Shiki le mangeur de kakis qui aime les haikus; haiku du bord de mer;ISSA et pourtant et pourtant Moundarren
-HAIKU, L'Espace Intérieur, Ed. Fayard
- Du rouge aux lèvres, Haïjins japonaises, Ed. La Table Ronde
- O Japão no Feminino, Haiku, Assírio&Alvim
- Le poème court japonais d'aujourd'hui, Haiku du XXe siècle, Poésie/Gallimard
- Le livre des haïku, èdition bilingue, Jack Kerouac, La Table Ronde

Espero q os possas encontrar...
Boa leitura
Abraço

pn a dit…

Obrigado. Vou pesquisar numa Fnac...

Cinzento dia
na morrinha enlaça
um homem triste.