mardi 29 septembre 2020

 Durante a noite,

a minha coluna vira tronco de carvalho centenário

e o braço direito é o galho onde o cuco fez o ninho.

Imóvel, tolhida, entrevada como se me tivessem vestido

um colete de ferro. Não ouso um gemido e o meu peito,

lentamente se transforma numa laje de betão.

Sou como uma fonte que secou, incapaz de verter uma lágrima.

Mas, se me sangrassem agora, escorreria seiva!

 I am now half human, half ugly beast.

The beast is progressively devouring the human.

It's called self-preservation instinct!

mercredi 2 septembre 2020

 Dentro de pouco mais de 24 horas, dou oficialmente entrada no nível 3 do Jogo CCD – 2020, multiplayer. 

Já se percebeu que não estamos a falar de um jogo de tabuleiro, nem de pecinhas de Lego. Quem jogou Atari ou Megadrive quando era pequeno percebe a imagem, apesar de a vertente entretenimento se ter pulverizado no meu jogo do mundo real. Virtualmente, este meu jogo nada tem de fascinante, mas contem alguma da atratividade dos video games: envolve alguma competição inter espécies, interação social à distância , domínio da tecnologia, algoritmos indecifráveis… 

A vertente do vício e da adição e da tolerância ao fracasso também ocorrem no meu jogo, portanto convém ficar de olho.

Alguém normalmente preocupado desata logo a perguntar: com quem está você jogando? Já leu o Manual do Jogo? Este jogo de facto não é indicado para qualquer indivíduo. Há que ter em conta e falar claramente da literacia ou letramento digital como dizem os nossos irmãos brasileiros, da importância de se alfabetizar/educar sobre o assunto.

É importante logo no arranque do nível 1, familiarizar-se com o conteúdo deste jogo, o tipo de exposição que ele pode acarretar, porque por vezes damos o “ok” e o jogo acede às nossas informações, pode fazer com que haja contacto com outras pessoas do outro lado da tela e nem sabemos quem elas são. Há que se documentar bem sobre o jogo antes de entrar nele.

No nível 3, o jogo não é apenas jogado, também é assistido por uma equipa de backup que entra, ela também, no âmbito da diversão, quando algo se descontrola.  Já não se trata apenas de uma questão de alistamento e de estratégia de amadores, vira combate com rebeldes adeptos da propaganda ideológica bélica, dotados de uma artilharia pesada.

O fascínio reside na graça do nexo narrativo do próprio jogo virtual. Passa-se no mundo real, numa cidade real, com personagens reais, uma protagonista real e um personagem viral que opera como criminoso assassino. 

De tempos a tempos, questiono-me. Não deveria abandonar já o jogo? Não será este jogo demasiado violento? Não gerará mais violência ainda?

Provavelmente será, mormente para os indivíduos mais suscetíveis às mensagens de violência. Cada cérebro, é sobejamente conhecido, pode reagir de uma forma ou de outra, àquilo que lhe é apresentado e de acordo com todas as variáveis possíveis. Se todas atingirem um ponto determinado, algo pode ocorrer. Cada caso é um caso, dentro de um contexto específico. É aí que entra a qualidade de educação e de informação sobre o material do jogo.

Este jogo é um misto de Doze de Setembro, Minecraft, Assassin’s Creed, GTA, Against All Odds, The Sims e 3rd World Farmer! 

Coloca dilemas! Por exemplo, imagine que é um fazendeiro pacífico e meio hippie, tipo peace & love, vai deixar um guerrilheiro treinar na sua lavoura? Vai deixar um terrorista kamikaze destruir a cidade inteira? Consegue resolver o problema com um franco-atirador ou vai deixar-se abater por mais homens bomba?

Prefere uma abordagem com uma estética mais cartoonesca, um alívio cómico ou violência pura e dura e perfeita, como no Call of Duty? Onde você dá o tiro, vê o buraco da bala, vê o sangue.  

Este jogo não é mais do que uma Live Action, um jogo de interpretação! 

Entre o nível 1 e o nível 3, estive no Escape Room do nível 2, a tentar decifrar a meta mensagem de Bateson de todos os atos do jogo, as suas regras evolutivas, a descortinar as inevitáveis limitações de uma jogadora inexperiente como eu sou, as sujeições às inúmeras leis autoritárias no vasto conjunto de operações da máquina.

Preparo-me a entrar no círculo mágico de Huizinga. Um mundo ad hoc, uma jaula de ferro, cheio de fluidos paradoxos e rigidezes não triviais, ou seja, uma bela “trapalhada”. 

Tenho agora reconhecimento e legitimidade para derrubar o inimigo reputado invencível, num ato de justiça mais ou menos arbitrário. 

A minha espada será um pedaço de borracha, uma esponja, uma tesoura ou um bisturi e qualquer membro amputado ou cabeça degolada crescerá de novo! 

Esta é a melhor brincadeira que se pode imaginar, no mundo da virtualidade real ou da realidade virtual, neste meu jogo livre e aberto. 

Papers, Please!

mardi 1 septembre 2020

 seule,

face au miroir,

je ne pense à rien -

je m'épile les sourcils!


 Distorted dreams, 2015 - by Vassilis Tangoulis