samedi 28 février 2009

eu ausente -
a aranha teceu a teia
no estendal


1 ponte
vários destinos
e sempre a solidão


(inspirado de uma das fabulosas fotos
do blogue
Digit@l Pixel)

vendredi 27 février 2009

nas árvores -
pardais debicam
comida pré-embalada

dia cinzento -
passa uma femme fatale
de óculos escuros

mundo carnavalesco -
ovos de Páscoa
já substituem as máscaras
pas de neige
seulement des perce-neige

2 anos de blogue em estaleiro ...

amanhã a promessa cumpre-se !?..
um blogue em que só haverá manutenção?!..

mercredi 25 février 2009

nem a cadeira de plástico
sonhava acabar os seus dias
na ravina da linha do comboio

à janela do comboio -
na linha de horizonte
graffitis e fios eléctricos

na névoa da manhã
a casa amarela -
o espanto da criança

publicidade -
quem gostaria de viver
num postal?

braços erguidos para o céu -
árvores fantasmagóricas
correm atrás do comboio

no crespúsculo -
o meu perfil
segue à velocidade da máquina

no chão sujo do metro -
uma lata amarela
rutila como um sol

uma caixa de chocolates;
mas, um desejo compulsivo
de ti

nos bancos sujos
da carruagem de metro -
corpos sempre mais tristes

vibrante por fora
taciturna por dentro -
feeeling of the day

2 cogumelos gigantes -
o bosque encantando
no jardim do vizinho

mardi 24 février 2009

branches de magnolia -
teintes délicates
sous un ciel gris

ramos de magnolia
cores delicadas
sob um céu cinzento

un jeune merle
médite longuement
sur le mur en briques rouges

um jovem melro
medita longamente
na parede em tijolo

une année de plus
à l'été de ma vie -
une ride de plus

mais um ano
no verão da minha vida -
mais uma ruga

samedi 21 février 2009

Haiku du XXe siècle - Gallimard

Dans l'oeil de l'oiseau migrateur
je deviens
toujours plus petit

Ueda Gosengoku

No olho do passaro migrador
torno-me
cada vez mais pequeno

J'ai rêvé
d'un visage de bouddha -
quel froid ce matin!

Wada Gorô

Sonhei
com um rosto de buda -
que frio esta manhã!

Je tousse
donc je suis -
neige de minuit

Hino Sôjô

Tusso
logo existo -
neve da meia-noite
brouillard matinal -
un jeune merle
sautille sur la bâche verte

névoa matinal -
um jovem melro
saltita no oleado verde

mercredi 18 février 2009

um cuco a cantar
às desoras -
o despertador dos vizinhos?


deixo a ampulheta
decidir alguns minutos -
cozo um ovo


uma velhota e a bengala
a ganharem fôlego -
no sopé da escadaria


2 palhaços montados
em seus cavalos de brincar -
olham-me metalicamente


inverno em agosto
verão em fevereiro -
como é isso das estações?

mardi 17 février 2009

World Haiku Association, Nº 5, 2009 2nd Part)

Os grilos cantam
Apenas do meu lado esquerdo -
Estou ficando velho.

Ento (1954 -) Brazil

Les dattes mi-mûres
Ont le goût vieux
De caramel au lait

Michel Favriaud ( 1952 - ) France

Tu m'avais dit: songe
entre les draps esseulés
l'odeur des violettes...

Georges Friedenkraft (1945 - ) France

Sandpipers and me
Living recklessly
Racing to the sea

A small insect
That squeezes through a screen -
Such love as this!

Jack Galmitz (1951 -) USA

Spring stars -
a letter I think
I'll burn someday

Pearls
get used to
the wind in June

Yasuko Goto ( 1948 - ) Japan

forgotten for today
by the one true god
autumn mosquito

rising
to urinate
the dog star

orchid scent :
a promise
and a kiss

Lee Gurga ( 1949- ) USA

I believe it's a tea box;
it's breathing out
butterfleis

Rei Hatano (1950- ) Japan
nem o frigorífico
sonhava acabar os seus dias
esventrado na Rua do Tejo

lundi 16 février 2009


nem a garrafa de champagne
sonhava acabar os seus dias
atrás das grades

nem as garrafas de cerveja
sonhavam acabar os seus dias
na arriba junto ao mar

nem a bateria do automóvel
sonhava acabar os seus dias
camuflada junto ao mar

nem os sapatos
sonhavam acabar os seus dias
no cabo eléctrico

dimanche 15 février 2009

Lá fora -
um gato mia
desalmadamente!

Nem a tábua de engomar
sonhava acabar os seus dias
tombada no passeio.

O assobio inconfundível
do amolador -
o que há ainda para amolar?

Lua nova -
quase sumida
por uma palmeira.

Mesma hora.
Outro lugar -
mas também chove.

O mendigo lê o jornal,
pés descalços a apanhar sol -
na praceta da vila.

No lago -
peixes dourados abocanham.
Bocas quase humanas.

No horizonte -
um rio ou um mar?
Estendais nas varandas.

Nem a sapatilha
sonhava acabar os seus dias
na cidade dos coelhos.

samedi 14 février 2009

Assise tel un Bouddha -
seul le bruit des vagues
heurte mon crâne

Sentada como um Buda -
apenas o ruído das ondas
percute o meu crânio


Plus un grain de sable -
la plage hâpée
par l'océan

Nem um grão de areia -
a praia engolida
pelo oceano


Des rigoles d'eau irriguent
ce corps pierreux -
le mien, c'est du sang?

Veios de água irrigam
este corpo de pedra -
o meu, será sangue?


Le temps passe
passe le temps -
les vieux traînent des pieds

O tempo passa
passa o tempo -
os velhos arrastam os pés


Assis sur les bancs publics,
face à l'azur -
une brochette de vieux

Sentados nos bancos públicos,
frente ao azul -
alinhamento de velhos


À l'intérieur -
l'odeur de l'encens.
Dehors -
le train qui passe.

Dentro -
o odor do incenso.
Fora -
o comboio que passa.


Ce soir - recroquevillée -
sur le pas de la porte
au R/C de mon corps

Esta noite - enroscada -
no patamar
no R/C do meu corpo


Une perle de rosée
sur l'ongle du gros orteil -
seul vestige de la promenade

Uma pérola de orvalho
na unha do dedo grande -
único vestigio do passeio

vendredi 13 février 2009


World Haiku Association, Nº 5, 2009, 1st Part)

How weak I am -
an itch where
the watchband touched

That bicycle for some time
lying on the ground -
scattered showers

Cherry-blossoms clams -
I used to be thrilled
at love

Yoshitomo Abe (1963- ) Japan

early in the morning
the merchant counts the money:
mild breeze slaps his thighs

Karunesh Kumar Agrawal (1976- ) India

At the ends of canals
I am following -
a land of butterflies

Wind in a conic shape
goes running -
mouth of a river

A firefly dies
when I flip a page
of the diary

Hirokazu Aihara (1970 - ) Thailand & Japan

Warm sunshine
makes me fly
out of the house

Night in spring -
it feels nice
sitting in a park

Ganbaatar Ankhtuya (1986 - ) Mongolia

Fait trop chaud l'été
fait trop froid l'hiver, dit-elle
Elle éclate de rire

Traverser le champ
en pensant à chaque brin d'herbe
et revenir

Dans ma famille, dit-elle
j'ai la réputation d'être
une grosse mangeuse

Jean Antonini (1946- ) France

At the bottom of the sea
a flatfish is
a cold postman

A pit viper
chasing the whereabouts
of the pension

A far-off earthquake -
an acacia tree cries
in the rain

Kiyoko Aoyama (1940 - ) Japan

wind in my hair ...
my skirt from Majorca
my blouse from Thasos

after the rain
the sounds became
so clear

Ludmila Balanova (1949 - ) Mongolia

in the courtyard
a family of robins -
sky-blue garbage bin

two horses and a donkey
with their backs to the rain -
alone in my hire-car

Grant Caldwell (1947 - ) Australia

Unaware of
each other two snowballs
racing downwards

A careful beggar
carries away a hedgehog
from a busy road

Two lonely moons floating:
one in the sea of the sky
one in the sky of the sea

Vladimir Devidé (1925 - ) Croatia

jeudi 12 février 2009

World Haiku Association

Foi com jubilação (falsamente contida) que retirei da minha caixa do correio o Nº 5, da publicação da
World Haiku Association, 2009, editada pelo poeta japonês Ban'ya Natsuishi.

Este ano contém 480 haikus, de 177 poetas, de 25 países.

Somos 3 a representar o nosso rectângulo (bom,... no meu caso o rectângulo e o héxagone...).

E com (re)jubilação (de novo, falsamente contida), passo a reproduzir os nossos haikai (poupando-vos aos caracteres japoneses indecifráveis para neófitos...).

David Rodrigues (1951- ) Portugal

Fui eu que saí
mas foi outro que entrou -
Sol da Primavera!

São ainda os lírios
ou já as primeiras névoas?
Alva de Inverno

Crepúsculo no lago
só em mim ecoa
a agitação do dia.


Lilita (1943 - ) Portugal

quando eu adormeço
no país das cerejeiras
levanta-se o sol

mar azul e branco -
os olhos purificados
e a alma também


Lucília Saraiva ( 1966 - ) Portugal & France

Ma maison
posée sur l'océan -
drap blanc contre le ciel.

Entre les azalées -
le ruisseau ondule
tel un somptueux dragon.

Nuit brune -
solitude alentour,
mon esprit cherche sa volonté.



mercredi 11 février 2009

Haiku du XXe siècle

Le criquet
regarde intensément
le profond de la terre *

(Yamaguchi Seishi)


O gafanhoto
olha intensamente
para a terra profunda



* Nota do tradutor francês:
"Alusão a um período de profundo questionamento: Seishi escreve este haiku em 1942, período negro em que o Japão entra em guerra. O poeta refugiou-se nas montanhas de Hakone para tratar a sua doença pulmonar e escapar à repressão de que são vítimas os haijin."

pálida bola de fogo -
esboroando
entre os dedos das palmeiras.


o melhor da vida a 2 -
alguém que nos aqueça
o rebordo da sanita?


na mesa da cozinha -
o copo de vinho
com borras secas.


resolução do dia :
tratar os homens
como os cactos!


cobra no quintal
enroscada à espreita -
a mangueira.

mardi 10 février 2009

tempos de crise -
pague 1
leve 2


saldos de 50% -
6 lojas de chinês
numa só tarde


loja chinesa
trespassa-se -
'coz no sales!


raios de um sol tímido -
os ramos da árvore
que o vizinho teima não podar


não saio à rua
sem pára-águas -
a chuva já é dissolvente!

lundi 9 février 2009


Da inoculação do vírus....

Aos que por aqui passeiam, vão se vos aprouver espreitar o blogue:

encontram lá um desafio lançado aos que escrevem poemas curtos japoneses, mais conhecidos por haiku ou haikai.

dimanche 8 février 2009

Du rouge aux lèvres - Haïjins japonaises (Éd. La Table Ronde)

«Depuis Bashô (1644-1694) - grand maître incontesté du haïku japonais, qui imposa la simplicité, la force de suggestion et l'impermanence (notion bouddhique) dans le haïku - différentes tendances se sont succédé. Parmi les deux principales branches, l'une défend le haïku naturaliste, ou ancré dans la nature, tandis que l'autre, abandonnant les règles traditionnelles du haïku, ne cherche pas à reproduire fidèlement la réalité (...).
Aujourd'hui, beaucoup de femmes japonaises, spécialistes ou amateurs, composent quotidiennement des haïkus, et certaines, suivant l'exemple de Kazuko Nishimura, ne se soucient ni de leurs maîtres ni du système de la société du haïku (...).»

Je taille une rose,
redressant
sa tige.

Podo uma rosa.
Endireito
o seu caule.

L'azur de mer fonce.
La terre commence
à faner.

O azul do mar escurece.
A terra começa
a murchar.

Les gens s'en vont.
Les arbres dépouillés
murmurent-ils?

As pessoas vão-se.
As árvores despojadas
murmuram?

Dans cette eau,
les ronds de la pluie,
mais pas ceux du tourniquet.

Nesta água,
os círculos da chuva,
mas não os do torniquete.

La cage à insectes
légère
avec ou sans insecte.

A gaiola dos insectos
leve
com ou sem insecto.

Bruit de l'eau,
chant des grillons
et battements de mon coeur.

Ruído da água,
canto dos grilos
e batimentos do meu coração.


Kazuko Nishimura (1948- )

samedi 7 février 2009

Je veux l'été...

je veux l'été -
un coquelicot perdu
au milieu des bleuets

je veux l'été -
une abeille lichant
une marguerite

je veux l'été -
une bête à bon dieu
avec son âge sur le dos

Qui s'y frotte s'y pique pas!


nem a cadeira sonhava
acabar os seus dias
na calçada da Marginal!

cansados da vista sobre o mar -
aloés
à varanda

barómetro do dia -
o meu desejo por ti
está intacto

aguaceiros a pedido -
mas a roupa já não está
no estendal

1 rajada de ar -
pode atirar 1 mulher
ao chão?

vendredi 6 février 2009

na cumieira do telhado -
uma gaivota
atenta ao temporal

jeudi 5 février 2009

no écrã do PC
projecta-se um sol febril -
rasgou a clarabóia

mãos geladas -
ele teima em aquecer-me
só as costas

silueta projectada
nesta parede
tão internamente branca

fairy tale palaces -
all disgruntled
by now?

mau tempo
na western coast -
aves perdidas

sumiu o sol -
ao menos vejo
o écrã do PC!

mercredi 4 février 2009

où s'en vont les papillons?


raio da chuva! -
até o gato
amocha no sofá.


no alto da falésia -
as avencas
querem ser aloés?

(cf. desenho do Zé Louro, a janela de alberti)


a mulher sem rosto
a mulher sem idade
a mulher com brincos


sentada na cadeira -
a mulher sem rosto
usa gola de pele.


chora baixinho -
a mulher sem rosto
perdeu a (ident)idade.

(personagem in Traços e Cores)

mardi 3 février 2009

levantou a moeda do chão
e soprou-lhe -
o tesouro do mendigo.


À porta da igreja,
mendigos - no olhar -
uma nova religião?!


charco de água -
uma minhoca
toma banho


o homem que fuma
sentado no seu atelier -
só.


perna e mão aleijados
e olhar também -
o artista.


uma rede de ferro
à laia de porta -
a toca do animal.
Beppu Beppu Beppu, Japan, ilha de Kyushu, '08

À la terrasse du café -
Quai du Vieux-Port.
Chiche?- le moineau intrépide!


entre le foot
et la messe -
vive le dimanche matin!


dans l'allée de la cathédrale -
seul résonne le cliquetis
de mon sac plastique.


À l'aube,
le cri puissant des mouettes -
Réveil-matin!


la jeune fille au visage de porcelaine -
assise sur l'escalier bleu
mange une pomme verte