dimanche 28 février 2010

Palavras

há palavras pujantes
há palavras assoberbantes
há palavras com rastilho
há palavras que fodem tudo
por onde passam
há palavras que são uma ordem
há palavras que são um imperativo
há palavras que não são de faiança
há palavras que escorregam
pela língua abaixo
há palavras que raspam o palato

e depois
há as palavras cagativas...
mois de février -
pleine lune fragmentée
par un platane
Jusqu'à ce qu'il disparaisse,
je regarde marcher un homme
dans la plaine nue.

Chiyo-ni (1703-1775)

Un chien fixe du regard
un autre chien,
loin dans les champs déserts.

Les lauriers-tulipiers
gonflés
comme des seins.

Midorijo Abé (1886-1980)

Je me range dans
la foule des hommes grossiers
puant la sueur.

Ce grand tournesol aussi
ne court plus
après le soleil.

Shizunojo Takeshita (1887-1951)

samedi 27 février 2010

Prize

froidure de l'hiver -
je tousse tel un oiseau
qui pépie
A matur idade -
uma idade
apenas?

frightening? -
the girl who could only think
in haïku

uma pergunta iterativa -
como é que uma mulher
vai tomar banho
com este frio?

Para o Rogério

sentados a uma mesa
e impotentes
esta tormenta passa
mas outra virá


salto para 4646 -
a tormenta na minha vida
é quando eu quero!..

Para o Fred

Rocinante -
descansemos
que o dia já vai longo.

Para a Helena

mãos -
as nossas magníficas
e horríficas extremidades

Pour Myra

anch'io voglio
voglio voglio
e non voglio più
e voglio di più
e dopo non so mai
che cosa voglio

LIES&TIES&BUTTERFLIES


jeudi 25 février 2010

1431...
a rolling stone year

mercredi 24 février 2010

sem hora marcada
chega sombria -
sempre inoportuna

a dor é funda
quando a sua presa
é uma frágil criança

a ampulheta bloqueou
em 1431 -
I wonder why?

Estrelo ovos
um está podre
fuckin' shit

preciso de entender
como de pão para a boca -
medo de passar fome?

lundi 22 février 2010

lies&ties&butterflies
all a girl needs

une femme en 5 déclinaisons

une femme
une mère
une fille
une amie
une amante

A.N.
o fulgor da chama -
o meu último
fogo de palha

dimanche 21 février 2010


A.N.
desejo profundo -
enroscar-me no âmago
do teu umbigo

samedi 20 février 2010

Luska

Era uma vez uma minúscula princesa caprichosa e mimada. Seus pais já sobejamente irritados e ultrajados com birras e exigências diárias, impuseram-lhe um castigo proeminente: proibição absoluta de usar o telemóvel e o pc portátil por tempo indeterminado. Luska, nascida na era da comunicação e das novas tecnologias ficou reduzida ao silêncio mais torturadoramente absoluto. Foi perdendo os amigos que estranharam o seu repentino e total silêncio. Ficou em reclusão absoluta, incomunicável. A cólera e a raiva toldaram-lhe o espírito. A barreira entre si e o mundo era intransponível e deixava-a fora de si. Foi então que começou a escrever nas paredes do palácio, um bunker fortificado. Primeiro, "gritou" a sua revolta surda, que ficou sem eco. Pois já todos sabiam que era uma rebelde e o seu próprio séquito deixara de lhe prestar atenção. Luska estava cada vez mais isolada e só paulatinamente percebeu, às suas expensas, que a revolta não paga dividendos. Começou então a escrever palavras soltas nas paredes do palácio. Palavras luxuosas. Palavras únicas. Palavras suas. Luska sabia agora que já não lhe restava um único amigo no mundo real. Perdida em pensamentos sombrios e resignados - o silêncio parecia ser agora o seu aliado na surda resignação. Alheada de tudo e todos, escreveu um dia uma última palavra que abriu, instantaneamente, uma brecha na cerca do palácio. Luska sedenta de liberdade fugiu.
our destiny
is a fucking wall -
silence!

blog corda -
une couleur
avec aura

Reginka -
quand tu passes
les fleurs savent
que tu es une reine!

Lullaby -
nada me surpreende,
mas tudo me surpreende.

totally blind -
the blind willow
swallowed the lake.

vendredi 19 février 2010

1431 -
sem vós senhor
é como um deserto

mercredi 17 février 2010

strange sensation today -
I feel lonely butterflies
inside of me

mardi 16 février 2010

aimer...

aimer forniquer

poursuivre cette part de toi que je contiens ...

l'étreinte de tes doigts
la puissance de tes reins
la force de ton désir
la caresse de ta langue
la chaleur de ta bouche

poursuivre cette part de moi que tu contiens...

aimer copuler

la dureté de ta chair
la rudesse de ta peau mate
l'emprise de ta mâchoire
la rondeur de tes fesses
la roideur de ton sexe

aimer goûter tous les jus de ton corps
et te faire goûter tous les jus de mon corps

aimer...
poursuivre cette part de nous....
Senti-me labirintada -
os labirintos
libertam?!

dimanche 14 février 2010

mes lèvres sont promises
à ton corps -
tout simplement
Essayant des soutiens-gorge -
je m'aperçois que mes seins
deviennent graves.
Rapariga da pele de porcelana -
a Provocação é 1 Arte
a manipular com parcimónia!

Mesmo quando estou mal
estou bem, porque estou
basicamente a viver - diz ela.
3 on the morning -
I wonder if I am a poet
or a stupid woman

3 on the morning -
reading haikus I wonder
how I will manage
to write this one

Bela Adormecida

Sou a Bela Adormecida. Mandam-me dormir para as necessidades do filme. E eu durmo. Depois, nem sei bem como é que acordo!...

samedi 13 février 2010

Hoje é dia de auto-disciplina -
mente curto-circuitada
e corpo anestesiado

World Haiku 2010 Nº 6

Lucília Saraiva - Portugal

Sou a mão que apanha
as pétalas caídas
no chão

Je suis la main
qui ramasse les pétales tombées
par terre

Uma ampulheta
bloqueia-me
o cérebro

Un sablier
me bloque
le cerveau


E ainda eu com o nome de Cydney Robbins (USA) !!!!

que não vai perceber como é que os meus haikus lhe foram atríbuidos e os dele sonegados

Na linha de horizonte
penduro cuecas e meias -
penso na vida

Tenho de descer
da nuvem -
as nuvens chovem!

Não sei quem deve ficar mais aborrecido se eu cujos haikus foram atríbuidos erroneamente a este senhor, se este senhor que nem vê os seus haikus publicados!!! Pois é... já nem os japoneses são infalíveis !!!...

Leonilda Alfarrobinha - Portugal

praia matinal -
tempos distantes regressam
no cheiro das algas

espantalho ao vento
num campo de girassóis -
pardais sobre os ombros

laranjal -
a minha infância
neste aroma familiar

Casimiro de Brito - Portugal

O Norte e o Sul,
o Ocidente, o Oriente -
só a ti seguirei

Ouço as tuas lágrimas -
música do mundo caindo
na minha boca

Amar-te, beber-te
ou, pelo menos, ser a tua
sombra

David Rodrigues - Portugal

como uma mão
a brisa passa pelas ervas -
pêlo de gato

um caranguejo
caminha no olho do golfinho -
chuva de Inverno

borboletas
pousam à vez no piano -
tarde dourada

vendredi 12 février 2010

1431

locus eroticum -
manda a alma
ou manda o corpo?

Fluidez # 2


mercredi 10 février 2010

profundo desejo -
ancorar-me na essência
do teu silêncio

mardi 9 février 2010

I just happened
to love
the colour of your skin
a gin tonic
in a tropical heaven -
your face on the glass

dimanche 7 février 2010

a gin tonic
in a frozen night -
silence in the glass

inspired after Wintermoon
from the blogue Delfini workshop II

vendredi 5 février 2010

Algo

Quero algo porque
nada
é pior que algo
que não seja bom
nada
é estagnação
logo
quero algo porque
nada
é pior...

Isto não é um micro-conto

"Enterrada viva em crime de honra

TURQUIA Uma jovem de 16 anos foi enterrada viva pela sua família, num crime de honra no Sudeste da Anatólia. O corpo foi encontrado na propriedade da família: a jovem estava sentada, de mãos atadas e a autópsia revelou terra nos pulmões e estômago. O pai e o avô foram presos, mas recusam falar."

Diário de Notícias, sexta-feira 5 de Fevereiro de 2010

lundi 1 février 2010

Fluidez

Dormi mal na noite passada. Oiço agora estuporadamente os dois velhos e à medida que se vão perdendo em infindáveis explanações e a parte vou-me afundando na cadeira. Dou por mim a imaginá-los em criança, de farda, nos bancos de uma escola pública salazarista ou de um colégio de jesuítas. Depois, na mocidade portuguesa. Pátria Família Trabalho. Sim. À minha frente, estão os verdadeiros pater familias polidos e indisfarçadamente perorantes. O ruído mecânico do aparelho de aquecimento sobrepõe-se à linha sonora contínua que quase me embala. Vou ouvindo bocejante as banalidades comezinhas da sua vida de reformados de longa data. O bafo quente do aparelho acentua o meu torpor. o velho apoplético lava agora a roupa suja. O outro ouve impávido com um sorrisinho indelével, de menino de coro, nos lábios finos. Eu sou o elemento exótico a impressionar. ("Comment peut-on être Persan?" Montaigne ou Montesquieu? Tendo para o segundo, mas a minha memória tem agora falhas sistémicas). Pátria Trabalho Família. Não se ofende?! "Olhe que aqui a Doutora está com pressa!"... Boa estratégia de fuga!... Inesperadamente, porém, reacende-se a brasa do inócuo discurso. "Vá lá que a Doutora quer-se ir embora!" ... Irritação. O bafo de calor artificial provoca-me agora desconforto e irritação. Uma quase náusea por overdose de palavras. Dói-me o crânio onde jaz uma pergunta sempre insidiosa: "Como é que se pode ser Português?"...