A melhor definição de Ilusão é essa crença insuportável da eterna juventude e imortalidade dos nossos vinte anos.
Anos volvidos, geralmente depois de levados a cabo todas as besteiras e disparates, acordamos estremunhados e mal nos conseguimos recordar de nós, quanto mais reconhecer no espelho. Foram-se as certezas fundamentais, alaparam-se à nossa carapaça as mais resistentes dúvidas. Engasgados com o nosso próprio fôlego, caminhamos trôpegos pelas calçadas, tropeçamos nas pedras ou nas nossas próprias ideias.
Passaram já décadas inteiras de vida e tudo se resume agora à repetição de gestos e rotinas, à aniquilação de qualquer forma drástica de mudança. Esbracejamos para não nos afogarmos no lodo das emoções. Levantamo-nos todos os dias para nos darmos conta que ainda estamos vivos. Bocejamos e fingimos escutar, nem que seja apenas o silêncio!
Temos uma consciência difusa do nosso corpo derreado, da nossa pele ressequida e da nossa ostensiva vaguez. Já não tememos o escuro. Já não acarretamos carrego nenhum. À noite, só queremos um colchão para estender os ossos e esticar os músculos.
Pergunta essencial: quando sabemos ter chegado a essa paragem? Talvez quando já não encontramos ninguém que tenha o dobro da nossa Velhice...
1 commentaire:
Como é bom ler vc. Potência e exuberância. Cette bonne terre si gironde, Ângela Calou. Tanto anos se passaram. Um abraço pra essa grande escritora que é vc. Tudo que há nesse texto, eu o tenho vivido por dentro. Merci
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