Era uma vez uma menina, de saúde algo frágil.
Na vida, o que mais adorava era brincar à macaca, ao elástico, às escondidas, na rua, com os seus amiguinhos, ou andar de bicicleta ou de patins, mas como amiúde adoecia, tinha de ficar, resguardada, em casa, assistindo às brincadeiras das outras crianças, pela janela do quarto.
Nessas alturas de reclusão forçada, acontecia-lhe ler muitos livros, que sempre pedia emprestados na biblioteca da escola. Era uma devoradora de livros e quando não lia como um ogre esfomeado, escrevia.
Escrevia curtas histórias em que vestia a pele da protagonista, heroína invulgar de múltiplas aventuras. Ora sobrevoava, montada em tapetes mágicos, como nos contos das mil e uma noites, cenários surreais de montanhas coloridas, ora percorria, no dorso de um dragão flamejante, florestas exuberantes, ora atravessava desertos lunares.
Nessas andanças, cotejava os vários personagens, muitos deles vindos direitinhos dos contos de fadas que adorava ler, que povoavam esses seus mundos imaginários.
Assim, acontecia-lhe dialogar longamente com duendes anões, senhores e donos da floresta, conversar animadamente, bebericando um chá, com animais irreais de tão exóticos que eram, à imagem da Alice no país das maravilhas, ou ainda passear de braços dados com plantas exuberantes e majestosas, ao lado dos quais vivia momentos mágicos.
Quando voltava à escola e às alegres brincadeiras com os amigos, acabava por lhes contar, quando se cansavam das correrias, as estórias que tinha anotado no seu caderninho especial. Era uma contadora de histórias muito precoce.
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