dimanche 4 avril 2021

 

Parece que vai chover…

Esta noite, foi outra vez ponto e vírgula – a insónia vivida.

No jardim, cresce a hera enquanto eu não durmo.

Sopra o vento.

Pergunto-me se deixarei os meus cabelos crescerem até ao chão onde cresce a hera.

Todos os dias, espero pela noite, como quem espera por um desvio, no caminho, para poder esgueirar-se. Mas quando vem a noite, percebo, com horror, que é inútil: não alcanço fechar os olhos, no grande silêncio escuro.

Podia até ser manchete nos jornais: A MULHER INSONE. A prisão dos dias intermináveis dos quais não alcança fugir.

O silêncio da noite virou já crispação.

Viro o meu rosto para o silêncio implacável. Sei que há uma hora incógnita em que, fatalmente, descerá o quebranto da vigília insone. Não me desespero à toa!

Da minha insónia, olho pela janela do quarto, às três da madrugada.

Parece que vai chover…

Respiro fundo e ganho uma lucidez que me torna fabulosa, ainda que inútil!

Um instante de embriaguez – os pés deixam de tocar o chão! Estarei a levitar?

Nestes últimos meses, ganhei maus hábitos de vida: de manhã durmo e de noite, acordo.

A erosão vai-me desnudando até ao osso.

A solidão faz de mim uma assexuada. Um ser abstrato e lento – uma piada estritamente perfeita!

Na minha vida quase já não existe quotidiano, somente insónia.

A época que estamos atravessando é fantástica – vivemos numa eternidade de lentidão e de silêncio inusitados que nos pode, dizem os peritos, endoidecer.

Parece que vai chover…

Estou sem resistência física, meio mole e gelatinosa, como uma alforreca viscosa, cuspida pelo mar.

Estou sobrando nesta aridez silenciosa onde não consigo fechar os olhos.

A insónia crónica deixa-me, penosamente, desorientada e entorpecida, no Tempo e no Espaço.

Sou uma viajante espacial, à espera, lunática e fantasmagórica.

Estou suspensa na estratosfera até à última ordem.

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