Joaquim Preficação. Seca tudo
o que aparece pela frente. O pobre diabo chega à aldeia, depois de uma jornada
de trabalho, a cambalear, todos os dias que deus faz. A maior parte do ano, parece
não ter eira, nem beira. A outra metade, arranja biscates onde lhe aparecem.
Pago à míngua, vive miseravelmente. Pelos vistos, nestes últimos meses, tem andado
a espalhar alcatrão.
Ontem, quando a vizinha lhe
foi levar a habitual panela de sopa semanal, estava enfiado, como um bicho, no
casebre. Portas e janelas fechadas. Não atendia ninguém. Nem mesmo, o Baltazar
das obras que o leva, todos os dias, para a cidade. Mas a Dona Armanda não é
mulher de esperas pacientes. Fez estremecer até os nós da madeira. Cabisbaixo e
contrariado, o Joaquim lá lhe abriu a porta.
- Atão, que se passa contigo
homem de Deus?
- Ai, Dona Armanda, nem queira
saber. Estou aqui com um problema muito grave.
- Que foi? Estás outra vez doente?
Estiveste a beber?
- Nah! Estou é muito cismado. Aquela cabra com
quem vivi, veio dizer-me que o meu filho afinal é do meu irmão João… aquele que
morreu no acidente. Que foi ele que a emprenhou. E agora, quer o herdo dele
para o filho. O meu irmão que está na Suíça diz que vem cá e que a mata. Mas eu,
ainda a hei-de matar antes dele! Eu mato aquela cabra! Hei-de matá-la eu primeiro!
- Ó Quim, não podes ficar em
casa e deixar de ir trabalhar por uma coisa dessas. E também não te adianta andares
por aí a botar essas ameaças da boca para fora. Se for verdade, não podes fazer
nada. Deixá-la, mas é falar. Vai-te embora trabalhar. Precisas é de te governar
homem! Essa conversa não tem chorume nenhum!
- Ela bem disse já muitas
vezes que me ia pôr a pedir aquela puta manhosa. Mas eu vou tratar-lhe da
saúde. Vou dar-lhe uma sova de criar bicho.
Segundo a Dona Armanda, o
Joaquim lá acabou por ir trabalhar. Na opinião dela, isto é melhor do que
assistir a telenovela. Aguarda ansiosamente as cenas dos próximos capítulos.
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