Retorna muitas vezes e possui-me,
querida sensação, retorna e toma-me -
quando a memória do corpo desperta,
e o desejo antigo me palpita nas veias,
quando os lábios e a pele recordam,
e as mãos sentem como se tocassem.
Retorna muitas vezes, toma-me de noite,
quando os lábios e a pele recordam...
Constantin P. Cavafy, in 90 E MAIS QUATRO POEMAS, trad. de Jorge de Sena
samedi 31 décembre 2016
vendredi 30 décembre 2016
À ESPERA DOS BÁRBAROS
O que esperamos nós em multidão no Forum?
Os Bárbaros, que chegam hoje.
Dentro do Senado, porquê tanta inacção?
Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?
É que os Bárbaros chegam hoje.
Que leis haviam de fazer agora os senadores?
Os Bárbaros, quando vierem, ditarão as leis.
Porque é que o Imperador se levantou de manhã cedo?
E às portas da cidade está sentado,
no seu trono, com toda a pompa, de coroa na cabeça?
Porque os Bárbaros chegam hoje.
E o imperador está à espera do seu Chefe
para recebê-lo. E até já preparou
um discurso de boas-vindas, em que pôs,
dirigidos a ele, toda a casta de títulos.
E porque saíram os dois Cônsules, e os Pretores,
hoje, de toga vermelha, as suas togas bordadas?
E porque levavam braceletes, e tantas ametistas,
e os dedos cheios de anéis de esmeraldas magníficas?
E porque levavam hoje os preciosos bastões,
com pegas de prata e as pontas de ouro em filigrana?
Porque os Bárbaros chegam hoje,
e coisas dessas maravilham os Bárbaros.
E porque não vieram hoje aqui, como é costume, os oradores
para discursar, para dizer o que eles sabem dizer?
Porque os Bárbaros é hoje que aparecem,
e aborrecem-se com eloquências e retóricas.
Porque, subitamente, começa um mal-estar,
e esta confusão? Como os rostos se tornaram sérios!
E porque se esvaziam tão depressa as ruas e as praças,
e todos voltam para casa tão apreensivos?
Porque a noite caiu e os Bárbaros não vieram.
E umas pessoas que chegaram da fronteira
dizem que não há lá sinal de Bárbaros.
E agora, que vai ser de nós sem os Bárbaros?
Essa gente era uma espécie de solução.
Constantin P. Cavafy in 90 E MAIS QUATRO POEMAS, Trad. de Jorge de Sena
Os Bárbaros, que chegam hoje.
Dentro do Senado, porquê tanta inacção?
Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?
É que os Bárbaros chegam hoje.
Que leis haviam de fazer agora os senadores?
Os Bárbaros, quando vierem, ditarão as leis.
Porque é que o Imperador se levantou de manhã cedo?
E às portas da cidade está sentado,
no seu trono, com toda a pompa, de coroa na cabeça?
Porque os Bárbaros chegam hoje.
E o imperador está à espera do seu Chefe
para recebê-lo. E até já preparou
um discurso de boas-vindas, em que pôs,
dirigidos a ele, toda a casta de títulos.
E porque saíram os dois Cônsules, e os Pretores,
hoje, de toga vermelha, as suas togas bordadas?
E porque levavam braceletes, e tantas ametistas,
e os dedos cheios de anéis de esmeraldas magníficas?
E porque levavam hoje os preciosos bastões,
com pegas de prata e as pontas de ouro em filigrana?
Porque os Bárbaros chegam hoje,
e coisas dessas maravilham os Bárbaros.
E porque não vieram hoje aqui, como é costume, os oradores
para discursar, para dizer o que eles sabem dizer?
Porque os Bárbaros é hoje que aparecem,
e aborrecem-se com eloquências e retóricas.
Porque, subitamente, começa um mal-estar,
e esta confusão? Como os rostos se tornaram sérios!
E porque se esvaziam tão depressa as ruas e as praças,
e todos voltam para casa tão apreensivos?
Porque a noite caiu e os Bárbaros não vieram.
E umas pessoas que chegaram da fronteira
dizem que não há lá sinal de Bárbaros.
E agora, que vai ser de nós sem os Bárbaros?
Essa gente era uma espécie de solução.
Constantin P. Cavafy in 90 E MAIS QUATRO POEMAS, Trad. de Jorge de Sena
jeudi 29 décembre 2016
CÍRIOS
Os dias do futuro estão em frente a nós
como uma longa fila de círios acesos.
Dourados, quentes, vivos, pequeninos círios.
Os dias do passado ficam para trás,
uma triste fileira de apagados círios:
ainda fumegantes os mais próximos,
os outros frios, derretidos, recurvados.
Não quero vê-los: essa imagem fere-me -
dói-me lembrar a luz que foi a deles.
Olho na frente os meus círios acesos.
Não quero voltar-me e ver, horrorrizado,
quão rápida se amplia a fila escura,
como se multiplicam os que se apagaram.
Constantin P. Cavafy , in 90 E MAIS QUATRO POEMAS, Trad. de Jorge de Sena
como uma longa fila de círios acesos.
Dourados, quentes, vivos, pequeninos círios.
Os dias do passado ficam para trás,
uma triste fileira de apagados círios:
ainda fumegantes os mais próximos,
os outros frios, derretidos, recurvados.
Não quero vê-los: essa imagem fere-me -
dói-me lembrar a luz que foi a deles.
Olho na frente os meus círios acesos.
Não quero voltar-me e ver, horrorrizado,
quão rápida se amplia a fila escura,
como se multiplicam os que se apagaram.
Constantin P. Cavafy , in 90 E MAIS QUATRO POEMAS, Trad. de Jorge de Sena
mardi 27 décembre 2016
dimanche 11 décembre 2016
jeudi 8 décembre 2016
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