mardi 19 octobre 2010

EPITHALAMIUM - fragmento

(...)
Para a igreja vos arranca
um animado e ruidoso murmurar.
Na ordenada ala o sol se entorna.
Os olhares que sitiam a noiva
apalpam como mãos suas ancas seus seios.
Como a roupa de dentro colada à sua pele
cercam-na bloqueiam toda a possível greta
levantam-lhe a camisa
como se atormentando
ou lhe solicitando
a escondida fenda.

O noivo impacienta-o o fim da cerimónia
lascivo daquelas tetas conhecer
no gosto de as sugar
ser a primeira mão a procurar
os cabelos do ventre o labiado tugúrio
a fortaleza feita não mais que para o assalto
que a sua máquina de guerra já inflama
em volume e prurido.
Trémula a alegre noiva sente
todo o calor do dia
no enclausurado sítio onde
sua nocturna mão de donzela
o proveito de um vazio prazer simulou.

(...)

Fernando Pessoa