mardi 15 mars 2022

Filha de um deus menor

Longe vai o tempo das mansas alegrias -
urdido de enredos ora engraçados, ora tristes -
das vãs andanças, dos múltiplos afazeres, 
das variegadas tramas e das dispersas correrias.

Grande coisa não há para relatar, agora, 
das labutas e acontecidos passados.

Fardos penosos carrega a moça, às costas,
sem poder sucumbir à folgada frouxidão!

Aos dias afanosos de pura glória e jubilo,
aos anos bons e felizes, sucedeu, impiedosa,
a desgraça que floresceu cedo demais.

Pesa-lhe, nos ombros, a carga dos recentes anos,
duros e sofridos; contendo, a todo o momento,
o desânimo e a sorrateira tentação de desistir.

Chegou o tempo desmedido do amargo desespero.
A vida como que parou na certeza e na agonia
da Ausência. Inútil. Imóvel. Improfícua.

De olhos secos e coração gelado,
virou estátua de pedra, erecta e fincada nas tábuas
de madeira carcomidas e apodrecidas pelos anos -
uma mera protagonista trágica da sua própria velhice!






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