Durante anos, viveu feliz.
Ela quebrara o Silêncio. Tivera em quem pensar.
Um corpo para tocar, acariciar, ver. Alguém com quem falar.
Às vezes a memória não é de todo boa companheira.
Gostara da mulher desde a primeira vez que haviam marcado encontro, num café chique da cidade.
Talvez não fosse má ideia esquecê-la agora rapidamente.
O seu encontro tivera qualquer coisa de clandestino e nem com a passagem do tempo conseguira esquecer as suas palavras, o seu olhar malicioso e a nitidez das suas mãos pequenas e delicadas.
A cidade onde se encontraram já não existe, nem as ruas vazias que percorreram calmamente, ao cair da tarde.
Tudo sucumbiu. Tudo se perdeu, num desencontro do lado errado do Tempo, feito de ausências e de noites de olvido.
Alguma coisa lhe falta agora.
Por isso, o moço caminha pela vida como uma lagartixa sem rabo, com a visão turbada por nesgas de recordações.
E o Silêncio ocupa de novo o seu lugar de Sempre.