Penso, de mim para mim, que a
VIDA não passa de um somatório de instantes mortos ou estéreis que estendem
muito longamente as coisas.
Sob um céu brilhante, o dia
vibra ainda, no seu último estertor, antes do anoitecer. A esta hora, sou
usualmente invadida por uma vaguidão insolúvel.
Sinto, nas costas, os últimos
raios quentes do Sol, mas nuvens roliças ameaçam tensamente chuva.
O dia foi violento.
As árvores rangem sob o sopro
do vento incessante. As folhas estão cobertas de poeira. Tenho os lábios secos
e a pele a estalar. Eriço-me com estremecimentos de frescura.
Quase já não sei respirar. E
isso me perturba!
Também as minhas palavras ficaram
agora tão pálidas quanto eu. Alguma coisa intensa e lívida vive nas margens roídas
do meu corpo, percorrido ora por um terror triunfante, ora por uma alegria
doida.
Só espero morrer noutra década
se é que não morri já!
A noite tranquila de silêncio
abre débeis pontes na penumbra. A sua sombra, aos poucos, desce e cobre o
jardim. A escuridão amansa, delicadamente, os pensamentos brutos e solitários
em que ando absorta. É como um fim de dor.
Na minha caverna, de súbito,
fico calma, submissa, quieta, inexpressiva e desmemoriada.
Deito-me na cama,
vagarosamente, sábia e cega como uma sonâmbula e dentro do meu coração pulsa um
ponto fraco, quase desfalecido. Baixa a tensão.
Mergulho os olhos na cegueira
da escuridão. Os meus sentidos nada mais percebem senão a quietude da sombra.
O vento sopra nas árvores com
mais intensidade. Uma lua gorda e prenhe vive pendurada na tela escura e enevoada
do firmamento.
Deslizo, lentamente, no sono.
Novas terras vão surgir, indefinidamente,
sob as minhas pálpebras fechadas, e passarei a noite a fugir de todas as coisas
que quase irão suceder.
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