Tenho várias histórias
verdadeiras e tenho outras que mentem meticulosamente.
As suas tramas, aquando da
urdição, ora me trazem uma renovada alegria, quase excitada,
ora me arrastam para um
desalento antigo e sonolento.
Cada história é uma orgia no
escuro, um processo sôfrego, intensificado pelas alegrias do apagão.
As palavras mais finas e preciosas,
com que preparo cada telão, são assaltadas, cortadas da boca que ainda canta e
depois cinzeladas, em espanto de inocência, fugindo de dentro si mesmas.
As outras são fabricadas -
pesadas e medidas a rigor – petrificadas, em molde de gesso, e
acabam cristalizadas no seu
âmago duro. Ora as uso com moderação,
ora as esbanjo.
A próxima história de verdade,
começa assim. E poucas usará.
Amanhece.
Olho friamente para a
derrocada do nosso mundo.
Nesta história, apenas tremem,
indiferentes, os ramos secos dos plátanos, sob o sopro do vento frio.
Uma nova era se inaugurou no lar.
Prossegue como se sabe – uma
população lenta e entorpecida, caminha em fila indiana, movida, a custo, pela
avidez do ritual formigueiro e síncrono, idêntico em todas as manhãs
sonâmbulas.
Estremeço de mau prazer aos inevitáveis
avisos e conselhos iterativos, ouvidos nos megafones das telefonias.
Ásperos instantes se irão
somar, hoje, ao ritmo dos ponteiros do Relógio do Tempo.
À porta de cada um, ou à volta
do pescoço, é colocada uma placa de mérito onde se pode ler: respeitou as
regras e (Sobre)viveu mais um dia!
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