dimanche 17 janvier 2021

Na rua vazia, até as pedras da calçada parecem retraídas.

Compreendem que elas também estão sós no mundo.

 

Hesito, antes de sair de casa, mas a cabeça estremece

como uma caixa de ressonância, prenhe de demasiados sons.

Torna-se imperativamente necessário ir à rua, aclarar as ideias.

 

O frio invernal espeta-me agulhas nos ossos esmigalhados

e tolhe-me as porosas articulações.

 

Os pés e as mãos distanciam-se, gelados, do resto do corpo.

 

Sentada numa pedra, olho conformada para o oceano.

Estou suportando, estoicamente.

 

Não cruzei ninguém na rua deserta.

É talvez demasiado cedo para se ir à rua,

numa manhã de domingo, em pleno Lockdown.

 

Os meus olhos lacrimejam.

O que fazer do desalento deste corpo seco,

à beira do soluço?

 

Em dias particularmente maus,

ele segue entregando-se,

num paroxismo excessivo,

à raivosa e insolente revolta,

inconformado à sua fatalidade;

mas lá acaba por se aquietar, atirado a um canto,

ora estático, ora descompassado

e atormentado,

como animal selvagem em sua jaula,

(acostumado a ela),

arfante na tarefa obrigatória de respirar,

totalmente submisso às regras do jogo da (sobre)vivência.

 

Quanto tempo passou já comigo aqui sentada,

fitando a linha de horizonte?

 

Tenho frio, mas teimo em não tremer.

É imperativo passar por cima do soluço.

 

Continuo por isso aqui sentada.

 

No meio de tanta vaga e fria impossibilidade…

No meio de tanta permanente incerteza…

No meio de tantas ruas desertas e de tantos esgotos secos…

existe ainda,

a cada instante,

(estou segura disso)

o apelo da pressurosa e

extraordinária Gravidade.

 

Nem uma só vez se deve olhar para baixo.

 

 

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