Rafaella é
violoncelista. Alfredo é um pianista virtuoso. Ela diz-se a mulher mais feliz da
Terra quando ele a acorda, todas as manhãs, ao som de Brahms ou Mozart ou
Chopin.
Nem sempre as
suas vidas estiveram unidas. Alfredo apaixonou-se perdidamente por Rafaella ,
ao ponto de deixar mulher e filho. Na altura, era seu professor de piano e
tiveram um caso tórrido, mas Rafaella tinha apenas vinte anos. Era uma jovem bela
e ambiciosa pouco interessada em entregar-se de corpo e alma a um homem mais
velho e tão pressurosamente desesperado. As suas vidas seguiram o seu rumo.
Ela casou com um
homem insignificante, foi inexpressivamente infeliz e descasou uns anos mais
tarde. Ele casou uma segunda vez e separou-se novamente, anos depois. Quando Rafaella
o deixara, trinta anos antes, ele quase morrera, vítima de enfarte. O rumo da
existência porém é tortuoso e manhoso.
Numa bela manhã
de verão, numa altura da vida de Rafaella em que esta se sentia particularmente
só, ouviu na rádio uma soberba sonata tocada por Alfredo e teve um desejo
irracional de o rever. Estranhamente, Alfredo estava para casar uma terceira
vez. Mas em vez de casar com a sua então namorada, casou com Rafaella. Vivem,
actualmente, em Veneza, num apartamento virado para o Duomo há mais de vinte e
cinco anos. Ela é hoje ainda uma bela mulher cheia de vivacidade e ele, um
octogenário, com muito vigor e brilho. São felizes.
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