A hora do ano que eu gosto é o Verão. Mas os verões verdadeiros do Egipto ou da Grécia - com o sol forte, com os triunfantes meios-dias , com as noites extenuantes de Agosto. Não posso dizer, porém, que trabalhe (artisticamente, quero dizer) mais no Verão. Impressões dão-me muitas as formas e as sensações do Verão; mas não observei tê-las registado ou tê-las traduzido directamente em trabalho literário. Digo directamente; porque as impressões artísticas permanecem muito tempo sem serem usadas, produzem outros pensamentos, amoldam-se outra vez por novas influências, e quando se cristalizam em palavras escritas, não é fácil recordar qual foi a hora do pretexto original, de onde verdadeiramente as palavras escritas emanam.
in POEMAS E PROSAS, Konstandinos Kavafis, Relógio D'Água
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