jeudi 29 avril 2021

 

Penso, de mim para mim, que a VIDA não passa de um somatório de instantes mortos ou estéreis que estendem muito longamente as coisas.

Sob um céu brilhante, o dia vibra ainda, no seu último estertor, antes do anoitecer. A esta hora, sou usualmente invadida por uma vaguidão insolúvel.

Sinto, nas costas, os últimos raios quentes do Sol, mas nuvens roliças ameaçam tensamente chuva.

O dia foi violento.

As árvores rangem sob o sopro do vento incessante. As folhas estão cobertas de poeira. Tenho os lábios secos e a pele a estalar. Eriço-me com estremecimentos de frescura.

Quase já não sei respirar. E isso me perturba!

Também as minhas palavras ficaram agora tão pálidas quanto eu. Alguma coisa intensa e lívida vive nas margens roídas do meu corpo, percorrido ora por um terror triunfante, ora por uma alegria doida.

Só espero morrer noutra década se é que não morri já!

A noite tranquila de silêncio abre débeis pontes na penumbra. A sua sombra, aos poucos, desce e cobre o jardim. A escuridão amansa, delicadamente, os pensamentos brutos e solitários em que ando absorta. É como um fim de dor.

Na minha caverna, de súbito, fico calma, submissa, quieta, inexpressiva e desmemoriada.

Deito-me na cama, vagarosamente, sábia e cega como uma sonâmbula e dentro do meu coração pulsa um ponto fraco, quase desfalecido. Baixa a tensão.

Mergulho os olhos na cegueira da escuridão. Os meus sentidos nada mais percebem senão a quietude da sombra.

O vento sopra nas árvores com mais intensidade. Uma lua gorda e prenhe vive pendurada na tela escura e enevoada do firmamento.

Deslizo, lentamente, no sono.

Novas terras vão surgir, indefinidamente, sob as minhas pálpebras fechadas, e passarei a noite a fugir de todas as coisas que quase irão suceder.

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