dimanche 31 janvier 2010

sorriso -
a fragilidade
a querer ser força


vendredi 29 janvier 2010

AN

Pour Myra

A lua no céu,
vista do estore de bambu,
fica menos fria.

Ramo de ameixeira
em flor - este forte cheiro
do senhor que amo.

Última flor da noite
florindo até de manhã -
neve sobre as árvores.

Den Sutejo
(1633 - 1698)

mardi 26 janvier 2010

Micro-conto

-3° C
Noite gelada.
De regresso ao Hotel, penetro insegura no túnel escuro.
O meu olhar cruza o do homem sem-abrigo que se está acomodando.
Inesperadamente, o homem murmura :"Desculpa".
Eu nem sei o que murmurar.

-5°C
Manhã gelada.
O homem sem-abrigo dorme ainda. É apenas um vulto informe enrodilhado em mantas e cartões. Hoje, sou eu quem murmura :"Desculpa".

jeudi 21 janvier 2010

uma preguiça impertinente
apoderou-se do meu cérebro -
o corpo faz-lhe a vontade

une paresse impertinente
s'est emparée de mon cerveau -
mon corps se soumet

Inspirado do poema e quadro da minha amiga Myra do fabuloso blogue http://www. parole.blogspot.com
je me penche
sur la flamme de la bougie -
mes mains gelées

debruço-me
sobre a chama da vela -
mãos gélidas

samedi 16 janvier 2010

Ainda do AN
charco no passeio -
pombos saltitantes
em banheira colectiva

flaque sur le trottoir -
pigeons sautillants
dans une baignoire collective

vendredi 15 janvier 2010

froid glacial -
une mouche semble perdue
dans l'immensité du couloir
Pormenor de azulejo do Almada Negreiros

jeudi 14 janvier 2010

Même la flamme de la bougie
vacille et blêmit
après un murmure du vent.

Até a chama da vela
vacila e empalidece
após um murmúrio do vento.

mardi 12 janvier 2010

Tempête en mer -
les mouettes planent
tels des cerfs-volants.

dimanche 10 janvier 2010

Coloco rimel -
alongam as pestanas.
Mas a vista continua curta.

Gosto de palavras -
mesmo daquelas
que não escolhi.

Noite fria -
tento apenas sentir-me
o mais feliz possível.

Borboleta nocturna

O Zé do blogue
http://ajaneladealberti.blogspot.com/ propos-me uma troca de prendas original neste Natal. Um dos meus colares contra um desenho dele. Mas não lhe facilitei as coisas. Pedi que ilustrasse um dos meus haïkus :
Papillon de nuit -
la lampe
n'est pas un soleil
Borboleta nocturna -
a lâmpada
não é um sol
E eis o resultado. Este magnífico desenho que patenteia uma interpretação bem pessoal do meu texto.
Foi a melhor prenda. Obrigada por esse talento.

Micro-conto

Less is more, dizem os minimalistas.
Ao ler vários micro-contos, numa revista de publicação nacional, do GMT e do JLP entre outros, fiquei intrigada com este "género literário" que desconhecia e cujo texto pode contar de 300 caracteres a 1000 palavras. Fiquei tentada. Eis o resultado em 202 palavras.



Se eu fosse uma dona de casa desesperada emborcava um ou dois copinhos de vinho do Porto, todas as noites, quando chegasse a casa após frenéticos e extenuantes dias de exercitação física no Holmes, mais próximo de casa, após uma sessão no Spa adjacente, onde o meu corpo de minhoca receberia massagens havaianas ou orientais, ao som de uma qualquer música de fundo de elevador, tipo relaxe enquanto sobe ao 45º andar, após passagem imediata pelo Body Something, onde o meu corpinho piloso, mas não piroso seria epilado até às mais recônditas dobras, não esquecendo ainda a marcação no Salão de Beauté, onde a minha cabeleira de arame farpado se transformaria numa linda crina sedosa, como a juba de uma leonina sílfide, e uma razzia final ao cartão de crédito na loja Chic Choc mais in do país, e talvez até da Europa, onde compraria aquele vestido de noite que faria o match com aquele anel que me deu o meu mais recente amante com quem tenho usualmente sexo…ups, perdão! aquele com quem tenho aparecido nas fotos das revistas rosa … Não. Pois não. Não mesmo. Definitivamente, não sou uma dona de casa desesperada, mas tenho vinho do Porto em casa…

vendredi 8 janvier 2010

from electriclila.wordpress.com

Um vento nómada teima
em revolutear-me
os cabelos.

Sacos de plástico-
em danças sufi.
Há coisas no vento
ou vento nas coisas?

Não podendo zupar
só me resta
zurrar!
Matin glacial -
une odeur de poivre
envahit mes narines.
Je passe à toute allure,
sous un poivirer rose.

mercredi 6 janvier 2010


Esbarra na parede.
Interroga os graffitis.
Não encontra a porta.

J.Caldas
Nouvel an -
un homme seul assis
sur une banquette en skaï vert.


Une femme taille ses rosiers -
c'est la rose qui pique,
non le destin.

Quando fores um homem
de meia idade,
Serei uma mulher
de plena idade.

dimanche 3 janvier 2010


Lama a escorrer
desde a encosta do monte -
um rebento de bambu!

Batendo nas folhas
e quebrando-se em bocados -
aí vem o frio.

Os cães a uivar
ao som das folhas que caem -
lá vem tempestade!

Que noite gelada -
na luz sinistra da vela,
navalhas de barbear.

Shiba Sonome
(1664-1726)